Alimentação e Manejo de Novilhas
Oriel Fajardo Campos
1
Rosane Scatamburlo Lizieire
2
Introdução
A fase de recria, que se estende da desmama ou desaleitamento até a primeira cobrição, é
menos complexa que a fase de cria, mas nem por isso exige menor atenção dos produtores de
leite. A composição do corpo da bezerra modifica-se com o tempo. De início, há crescimento
ósseo e altas taxas de formação de proteína, seguida por uma fase de maior formação de tecido
adiposo (gordura). Os fatores que influenciam a composição do ganho de peso são o peso do
animal, estágio do crescimento, consumo de energia acima daquela necessária para manter os
processos fisiológicos normais, como circulação, digestão, respiração, etc. (mantença), "status"
protéico e o tamanho que o animal terá na idade adulta.
Sob o ponto de vista prático é importante haver coerência entre as fases de cria e recria.
De nada adianta estabelecer um sistema de cria sofisticado e caro, resultando em animais
pesados e de excelente aspecto à desmama ou desaleitamento, se eles serão recriados em
pastos de má qualidade, sem suplementação. Os ganhos de peso obtidos com alto custo na fase
de cria serão perdidos durante a fase de recria. E vice-versa: não há sentido procurar superar
problemas de alta morbidade e mortalidade de bezerras jovens por meio de sistemas excelentes
de recria.
No passado, adotavam-se padrões de crescimento baseados em animais alimentados com
quantidades liberais de leite e concentrados, durante os primeiros 15 a 18 meses de idade. Eram
chamadas de "curvas normais de crescimento". Hoje, isto não faz sentido, exceto para atender
exigências de registro de animais em algumas Associações de Criadores. Na prática, existem
diferentes combinações de volumosos e concentrados que podem ser empregadas na
alimentação dos animais após a desmama ou desaleitamento, resultando em diferentes taxas de
ganho. Em conseqüência, a idade ao primeiro parto pode variar de 24 até 33-34 meses, ou mais.
Uma vez que todos estes sistemas podem resultar em novilhas produzindo quantidades
satisfatórias de leite, todos eles devem ser considerados "normais".
Pensando na propriedade como um todo, é importante minimizar os custos de criação das
novilhas de reposição. Um caminho efetivo para isto é reduzir a idade à primeira parição. Está bem
definido que a idade do primeiro cio (puberdade) é reflexo do tamanho ou peso (idade fisiológica) e
não da idade cronológica da novilha (DACCARETT et al., 1993).
Portanto, o plano de alimentação a ser adotado para as novilhas será aquele que, de forma
econômica, permita que elas atinjam o peso à puberdade e para cobrição (Quadro 1) o mais cedo
possível.
1
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Rua Eugênio do Nascimento, 610, Dom Bosco, 36038-330, Juiz de Fora, MG
2
Pesquisadora daPesagro-Rio, Estação Experimental de Itaguaí, 23850-000, Seropédica, RJ
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
2
Quadro 1:
Pesos vivos à puberdade e aqueles mais indicados para a cobrição, de
acordo com a raça.
Raças Peso Vivo (kg)
Puberdade Cobrição
Holandesa
270-280 340
Ayrshire
240-245 270
Guernsey
220-230 250
Jersey
200-210 230
Mestiças Holandês-Zebu
300-310 330
O início da puberdade
A puberdade é um processo gradual de maturação que se inicia antes do nascimento e
continua através do período pré e peripubertal. A maior parte dos componentes do sistema
endócrino que são requeridos para estimular o início da puberdade são funcionais antes da
puberdade ocorrer, mas este início é bloqueado por um “feedback” negativo do estradiol sobre a
secreção do hormônio luteinizante (KINDER, 1987; SCHILLO et al., 1992
Em novilhas de raças grandes, o início da puberdade normalmente se dá aos 9-11
meses de idade e peso vivo médio variando entre 250-280 kg. Entretanto, estes parâmetros
podem variar amplamente, tanto dentro de raças quanto entre raças. Em experimentos com
novilhas das raças Holandesa e Dinamarquêsa vermelha, foi observado início de puberdade
tão cedo quanto 5 a 6 meses e tão tardio quanto 18 a 20 meses (FOLDAGER et al., 1988,
citados por Sejrsen e Purup, 1997). A variação no peso vivo também foi muito ampla (150 a 400
kg); entretanto, menos que 5% das novilhas atingiram a puberdade antes de 200 kg de peso
vivo e menos que 10% apresentaram cio após 300 kg.
A principal causa de variação para o início da puberdade, dentro das raças, é o nível de
alimentação (ROBINSON, 1990; SCHILLO et al., 1992). A magnitude deste efeito pode ser
observada no trabalho de FOLDAGER et al., 1988, citados por Sejrsen e Purup (1997). A média
de idade ao primeiro cio diminuiu de 16,6 para 8,4 meses à medida que a taxa de ganho de
peso aumentou de 450 para 850 g/dia. Por este raciocínio, as novilhas deveriam ser
alimentadas para atingirem altas taxas de ganhos até a puberdade, a fim de se obter uma
redução significativa na idade ao primeiro parto. Entretanto, o estabelecimento de estratégias
de alimentação que proporcionem altas taxas de ganho no período pré-pubertal podem
prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária (reduzindo o número de células secretoras)
e a futura produção de leite da novilha, além de, normalmente, serem antieconômicas.
Desenvolvimento da glândula mamária
O crescimento e desenvolvimento da glândula mamária são afetados pela alimentação e por
mudanças hormonais que ocorrem à medida que o animal se desenvolve, do nascimento até a
puberdade e gestação (SEJRSEN, 1994; NIEZEN et al., 1996; SEJRSEN e PURUP, 1997). É
importante saber como isto acontece.
A estrutura básica da glândula mamária (tetas, sistema circulatório, matriz adiposa e
ligamentos) está estabelecida ao nascimento. Para animais de raças grandes, até os 80-90 kg de
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
3
peso vivo ocorre o crescimento do sistema circulatório e da matriz adiposa da glândula mamária.
Esta matriz adiposa é a base na qual o sistema de dutos se desenvolverá.
No período pré-puberdade (dos 80-90 até os 250-280 kg de peso vivo, aproximadamente), o
crescimento da glândula mamária se caracteriza pelo aumento acelerado da matriz adiposa e pela
proliferação dos dutos neste tecido, formando o parênquima. Esta fase é mediada por alguns
hormônios, notadamente estrogênio e somatotropina, sendo a taxa de crescimento da glândula
mamária bem maior que a taxa do crescimento do corpo da novilha (Figura 1). Isto significa
prioridade para a glândula mamária na utilização dos nutrientes da dieta. Por este motivo, há de se
evitar a subnutrição e, principalmente, a superalimentação da novilha. Animais recebendo dietas
que permitem ganhos acima de 900 g/dia, nesta fase, na maioria das vezes objetivando parições
antes dos 24 meses de idade, apresentam maior acúmulo de gordura no úbere, menos
parênquima e dutos mais curtos que aqueles de novilhas submetidas a taxas moderadas de ganho
(600-700 g/dia). Como resultado, a produção de leite durante a primeira lactação será menor.
Com a puberdade, inicia-se uma nova fase no desenvolvimento do úbere. A secreção de
progesterona (necessária para o desenvolvimento do tecido secretor), entre os dois a três
primeiros cios, parece ser o sinal para esta mudança. O tecido secretor cresce sobre os dutos que
se alongaram dentro da matriz adiposa, no período pré-puberdade. Os alvéolos se formarão e
substituirão a gordura da matriz adiposa, aumentando o parênquima. A cada cio, o estrogênio
liberado provocará picos de crescimento no parênquima. Ao contrário da fase pré-puberdade, o
aumento na ingestão de energia na pós-puberdade resultará em maior desenvolvimento da
glândula mamária. Embora as taxas aceleradas de ganho de peso após a puberdade não
influenciem negativamente a lactação na mesma extensão que no período pré-pubertal, alguns
pesquisadores têm insistido em controlar estas taxas antes (CAPUCO et al., 1995) e após a
Crescimento alométrico
Taxa
Figura 1: Taxas de crescimento da glândula mamária em comparação com a
taxa de crescimento do corpo de bezerras dos dois aos 12 meses de idade.
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
4
puberdade (HOFFMAN et al., 1996) para maximizar a vida produtiva do animal e reduzir a
incidência de problemas ao parto.
Em resumo, durante a fase dos 80-90 kg até 250-280 kg de peso vivo, novilhas de raças
grandes não devem ganhar mais do que 600-700 g de peso por dia, sob pena de má formação
do úbere e menor produção de leite na primeira lactação. Após a puberdade, pode-se estabelecer
planos de alimentação que resultem em ganhos superiores a estes, se necessário.
Próximo ao parto, ocorre aumento significativo no número de células na glândula mamária,
com o hormônio prolactina mediando o desenvolvimento do tecido alveolar. Desta forma, o úbere
se prepara para a primeira lactação.
Controle hormonal:
Evidências indicam que o estrogênio e o hormônio de crescimento (GH) desempenham
papel importante na regulação do crescimento mamário na puberdade (PURUP et al., 1995),
uma vez que este crescimento é bloqueado pela retirada dos ovários e restaurado pela
administração de estrogênio. Níveis circulantes de GH seriam reduzidos por altos níveis de
alimentação, e GH estaria positivamente correlacionado com o crescimento mamário
(SEJRSEN et al., 1983) e a administração exógena do GH propicia o crescimento mamário
durante a puberdade (SEJRSEN et al., 1986). Entretanto, o modo de ação do GH sobre a
glândula mamária parece pequeno e ainda não está totalmente esclarecido, uma vez que esta
não possuí receptores para GH, e este não estimulou o crescimento de células mamárias “ in
vitro”. Um hipótese provável é que o GH atue via aumento de secreção do fator IGF-I, uma vez
que o tecido mamário possui receptores para IGF-I, e este estimulou a proliferação de células
mamárias “ in vitro” (SEJRSEN e PURUP, 1997). Entretanto, a concentração de IGF-I no soro
está aumentada e não reduzida, pelo nível alto de alimentação. Vários estudos
(VESTERGAARD et al., 1995; PURUP et al., 1996; PLAUT, 1993) foram conduzidos para tentar
esclarecer melhor este ponto, mas nenhum resultado conclusivo foi, ainda, obtido.
Baseado nisto, fica evidente a necessidade de mais investigações para se conhecer
melhor os mecanismos fisiológicos envolvidos no desenvolvimento da glândula mamária, e sua
relação com a nutrição. Talvez, no futuro, seja possível estabelecer planos de alimentação com
altas taxas de ganho de peso de novilhas que permitam antecipar a idade ao primeiro parto,
sem prejudicar a produção de leite.
Taxas de ganho de peso na pré-puberdade
A relação entre o nível de alimentação durante o período de criação e a futura produção
de leite da novilha tem sido intensamente estudada (SERJSEN, 1978; CAPUCO et al., 1995;
HOHENBOKEN et al., 1995) e parece bem estabelecida. O aumento da concentração de
energia da dieta, dos três meses de idade até a puberdade, resultando em taxas elevadas de
ganhos de peso, pode prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária pela substituição do
parênquima mamário (células secretoras de leite) pelo tecido adiposo, independentemente do
tipo de dieta (SERJSEN e PURUP, 1997). O efeito negativo da superalimentação existe e é
similar para todas as raças, entretanto, o nível de alimentação que poderá causar redução na
futura produção de leite pode variar e é diferente entre raças SERJSEN, 1978; CAPUCO et al.,
1995; HOHENBOKEN et al., 1995). Segundo esses autores, o efeito negativo teve início
quando a média de ganho diário foi acima de 400 g para animais da raça Jersey, 600 g para a
Dinamarquesa vermelha e acima de 700 g para a Holandesa. O limite exato a partir do qual
este efeito negativo passa a influenciar o desenvolvimento da glândula mamária ainda não está
bem definido Se para estes autores taxas de ganhos de peso superiores a 600-700 g podem
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
5
comprometer o desenvolvimento da glândula mamária, para QUIGLEY (1998) quando as taxas
de ganho de novilhas holandesas excederem a 820g/animal/dia e, certamente, 1,0/animal/dia,
o desenvolvimento da glândula mamária poderá estar comprometido.
Por outro lado, existem resultados de pesquisa em que não foi observado o efeito
negativo do nível de alimentação no período pré-pubertal sobre a produção de leite (PARK et
al., 1987; HEAD et al., 1991; GAYNOR et al., 1995). Em alguns casos, isto foi devido às taxas
de ganho de peso estudadas (TROCCON, 1993) ou períodos de tratamento completa ou
parcialmente fora do período crítico (PARK et al., 1987; HEAD et al., 1991). Contudo, em alguns
experimentos, a razão para a ausência de efeito de tratamento não está totalmente esclarecida
(GARDNER et al., 1988).
Alguns pesquisadores (HOFFMAN e FUNK, 1992; DACCARETT et al., 1993). têm
questionado se o aumento de todos nutrientes da dieta, e não só da energia, também
prejudicaria o desenvolvimento da glândula mamária. A alimentação com maior concentração
de proteína poderia reduzir os riscos sobre o desenvolvimento da glândula mamária quando as
novilhas forem alimentadas para ganhos de peso maiores que 900 g/animal/dia (RADICLIFF et
al., 1996, VANDEHAAR, 1997). Esta proteína extra permitiria redução na idade ao primeiro
parto e nos custos de criação, sem prejudicar a produção de leite. Entretanto, os resultados
obtidos até o momento ainda não permitem tirar conclusões definitivas sobre este aspecto, de
forma que prevalece o conceito de que ganhos de peso maiores que 800g/animal/dia, antes da
puberdade, aumentam significativamente os riscos de redução na futura produção de leite da
novilha (QUIGLEY, 1998).
Exigências dos animais e características de alguns alimentos
As quantidades recomendadas de alguns nutrientes na dieta de novilhas de rebanhos
leiteiros, em função da idade, são mostradas no Quadro 2.
Quadro 2:
Quantidades recomendadas de proteína bruta (PB), proteína degradada no rúmen (PDR),
proteína não degradada no rúmen (PNDR), energia digestível (ED), nutrientes digestíveis
totais (NDT) e alguns minerais e vitaminas, na dieta de animais em crescimento, segundo o
NRC (1989).
Nutrientes Idade (meses)
3-6 6-12 >12
PB (%) 16 12 12
PDR (%) 4,6 6,4 7,2
PNDR (%) 8,2 4,4 2,1
ED (mcal/kg) 3,02 2,89 2,69
NDT (%) 69 66 61
Cálcio (%) 0,52 0,41 0,29
Fósforo (%) 0,31 0,30 0,23
Magnésio (%) 0,16 0,16 0,16
Potássio (%) 0,65 0,65 0,65
Sódio (%) 0,10 0,10 0,10
Cloro (%) 0,20 0,20 0,20
Enxofre (%) 0,16 0,16 0,16
Ferro (ppm) 50 50 50
Cobalto (ppm) 0,10 0,10 0,10
Cobre (ppm) 10 10 10
Manganês (ppm) 40 40 40
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
6
Nutrientes Idade (meses)
3-6 6-12 >12
Zinco (ppm) 40 40 40
Iodo (ppm) 0,25 0,25 0,25
Selênio (ppm) 0,30 0,30 0,30
Vit. A (UI/kg) 2.200 2.200 2.200
Vit. D (UI/kg) 300 300 300
Vit. E (UI/kg) 25 25 25
A fase de recria pode ser feita a pasto, com suplementação mineral adequada. Durante a
época seca do ano, o produtor deverá lançar mão de suplementos volumosos para evitar
perdas acentuadas de peso. São várias as opções, como silagens, fenos, palhadas, etc. Para
animais mestiços Holandês-Zebu, a Embrapa Gado de Leite tem recomendado a utilização de
cana-de-açúcar, que apresenta as seguintes vantagens: é uma cultura tradicional no Brasil; de
implantação e manejo simples, não exigindo muitos tratos culturais; período de maturação e
colheita coincidindo com a época seca do ano; alta produção de forragem por área (70 a 120
t/ha); pequena taxa de risco; cultura perene; alimento de alta palatabilidade, facilitando a
ingestão de uréia; rica em carboidratos, na forma de sacarose; não é necessária qualquer forma
de conservação e, se não for usada, pode ser vendida ou simplesmente deixada no campo para
o próximo ano. A cana-de-açúcar apresenta deficiências em proteína e alguns minerais,
principalmente fósforo, magnésio, enxofre, zinco e manganês. Assim, além de uma boa mistura
mineral, recomenda-se a inclusão de 1% de uréia (em realidade, para cada 100 kg de cana,
adicionar 900 g de uréia e 100 g de sulfato de amônio), o que eleva seu teor de proteína bruta
de 3 para 11%. É importante ressaltar o período de adaptação de três a quatro semanas,
durante o qual a quantidade de uréia vai sendo aumentada gradativamente. O Quadro 3 reúne
os resultados, em ganho de peso, de alguns experimentos conduzidos com animais em
crescimento recebendo dietas à base de cana-de-açúcar + 1% uréia, suplementada com
diferentes alimentos concentrados.
Quadro 3:
Desempenho de animais em crescimento recebendo cana-de-açúcar + uréia, suplementada com
diferentes alimentos concentrados.
Concentrado Ganho de peso
(g/dia)
Variação no consumo de
cana (kg)
Alimento Quant. (kg) Variação Média
Sem suplementação - -40 a 225 131 6,3 a 9,5
Farelo de arroz 1,0 528 a 896 721 8,3 a 11,3
Raiz de mandioca 1,0 405 a 415 410 7,2 a 9,0
Milho triturado 1,0 296 a 600 462 9,0 a 10,0
Sorgo triturado 1,0 - 372 -
Farelo de algodão 0,6 293 a 625 500 -
Farinha de peixe/soja 0,5 333 a 669 518 8,4 a 9,4
Ao se fornecer dietas à base de silagem de milho para novilhas, deve-se observar: (1) a
necessidade de suplementação protéica, se não foi utilizada uréia ou outra fonte de nitrogênio
não protéico no momento da ensilagem; e (2) que, às vezes, é necessário limitar seu
consumo, para evitar que as novilhas fiquem obesas.
O feno é, sem dúvida, o melhor alimento para as novilhas mantidas sob confinamento.
Um feno de excelente qualidade pode ser até o único alimento. Se o feno for de pior qualidade,
será necessário usar concentrado ou a mistura com outros volumosos, para assegurar o bom
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
7
desenvolvimento dos animais. O valor dos fenos varia com o estágio de maturidade da planta na
época do corte. O conteúdo de proteína, energia, cálcio e fósforo são menores e o conteúdo de
fibra é maior para forrageiras maduras, reduzindo o seu valor nutricional.
A mistura em partes iguais (na base da matéria seca) de feno e silagem de milho pode
ser considerada como o melhor alimento para essa categoria animal, quando em confinamento.
Palhadas e restos de culturas podem ser usados, mas normalmente apresentam baixo
consumo e pouco contribuem com nutrientes para os animais.
A uréia não deve ser adicionada à mistura de grãos se estiver sendo utilizado outro
alimento (silagens, por exemplo) em que foi adicionada uréia ou outra fonte de nitrogênio não
protéico durante o processo de ensilagem.
O suplemento mineral deve estar disponível para os animais ou adicionados à mistura de
concentrados, com especial atenção para cálcio e fósforo. A suplementação de vitamina A pode
ser necessária quando são utilizados resíduos de cultura, forragens estocadas por longos
períodos ou aquelas que ficaram expostas ao calor e chuva. Os fenos podem perder parte de
seu conteúdo de vitamina A e E durante o período de armazenamento.
Novilhas mantidas confinadas por longos períodos necessitam ter suas dietas
suplementadas com vitamina D. Tão logo o rúmen se torna funcional, os microorganismos nele
contidos produzem toda a vitamina K, C e do complexo B que a novilha necessita.
Atualmente, as indústrias têm formulado rações para novilhas levando em consideração as
condições do ambiente (temperatura, tipo de instalação e incidência de ventos), que têm
influência direta sobre os requerimentos de energia dos animais (HOFFMAN, 1997). HOFFMAN
et al. (1995) descrevem os efeitos das condições ambientais sobre os requerimentos de
nutrientes, especialmente energia, para novilhas em crescimento. Um tópico que deve ser
destacado é o seguintes:
“Os requerimentos de nutrientes estabelecidos pelo NRC para novilhas
de reposição assume condições ótimas de ambiente que raramente são encontradas em fazendas
comerciais”
Claramente, qualquer desvio das condições ótimas de ambiente pode afetar as taxas
de crescimento. Alguns destes desvios incluem condições climáticas, infestação de endo e
ectoparasitas, distância que a novilha tem de caminhar na pastagem, condição corporal,
disponibilidade de água, densidade animal e muitos outros fatores. É importante levar em
consideração as condições ambientais quando da formulação da dieta para esta categoria animal.
Segundo os autores, a melhor maneira para se estabelecer uma dieta adequada é analisar os
ingredientes utilizados e pesar as novilhas, regularmente.
Estratégia para novilhas de raças grandes
Se o objetivo for a concepção aos 15 meses, as novilhas terão de ganhar entre 650-700 g
por dia do desaleitamento (aos dois meses; 55-65 kg) até os 340 kg de peso vivo (Figura 2). Este
ganho pode ser obtido utilizando-se somente volumosos de excelente qualidade, à vontade, ou
com o fornecimento de 1 a 2 kg de concentrado por dia, se necessário.
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
8
Figura 2: Estratégia de crescimento de novilhas de raças grandes para parição aos 24 meses de
idade.
A utilização de dietas completas poderá não somente economizar mão-de-obra e tempo,
como também minimizar a competição entre os animais. Uma vez que as dietas estão
disponíveis todo o tempo, cada animal é capaz de obter sua porção diária, consumindo várias
refeições durante todo o dia, em vez de uma ou duas grandes refeições.
No período pré-puberdade (dos 80-90 até os 250-280 kg de peso vivo), é importante manter
um crescimento uniforme das bezerras. Animais apresentando taxas de ganhos de peso muito
baixas, resultantes de dietas inadequadas ou doença, passam, após a correção do problema, por
um período de ganho compensatório, com taxas de ganhos de peso elevadas. Este período de
restrição, mesmo que de curta duração, poderá prejudicar a produção de leite futura (DREW,
1998).
Estratégia para novilhas mestiças Holandês-Zebu mantidas a pasto
As bezerras mestiças Holandês-Zebu deverão atingir 120 a 130 kg de peso vivo aos seis
meses de idade. Isto exigirá ganhos médios de 500 g por dia desde o nascimento. O sistema de
aleitamento natural, adotado pela maioria dos produtores, não suporta, por si só, tal ganho. Será
necessário o fornecimento de 1 a 2 kg de concentrado, dependendo da qualidade do alimento
volumoso. No sistema de aleitamento artificial, com quantidades restritas de leite (3 a 4
litros/animal/dia), também se recomenda o fornecimento de 1 a 2 kg de concentrado, caso se
almeje que as bezerras cheguem aos seis meses com 120 a 130 kg de peso vivo.
146
550
340
40 68
0
100
200
300
400
500
600
Nascimento 2 6 15 24
Idade (meses)
Peso vivo (kg)
Cobrição
Parto
(470)
(650)
(720)
(780)
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
9
Figura 3: Estratégia de crescimento de novilhas mestiças Holandês-Zebu para parição aos 33
meses de idade.
A partir dos seis meses de idade, se o objetivo for concepção aos 24 meses, com 330 kg
de peso vivo, a novilha terá de ganhar, aproximadamente, 400 g por dia (Figura 3). Durante a
época das águas, este ganho pode ser obtido com certa facilidade, e até excedido, se os pastos
forem de boa qualidade e bem manejados. Durante a época da seca, a suplementação volumosa
(silagem e/ou feno, ou cana-de-açúcar com 1% de uréia) normalmente se faz necessária. Os
suplementos volumosos mais comuns, de boa qualidade, quando fornecidos como alimentos
únicos ou exclusivos, mesmo à vontade, propiciam nutrientes para os animais manterem seu
peso ou ganharem, no máximo, 100 a 200 g/animal/dia. Se, por algum motivo, houver interesse
em obter ganhos de 500 a 600 g/dia, nesta época do ano, será necessário o fornecimento de
concentrado. Vale dizer que a suplementação com concentrados no período seco só se justifica
quando se objetiva que as novilhas atinjam peso ideal para cobrição no final desta estação, e com
isto conseguir parição mais cedo e em época mais apropriada. Somente nestes casos se
justificariam ganhos de peso na época seca iguais ou superiores àqueles obtidos na época das
águas.
Se a novilha ficar em regime exclusivo de pasto durante toda a recria, provavelmente a
primeira concepção se dará somente após os 40 meses de idade, retrato da atual pecuária
leiteira brasileira.
120
450
330
30 55
0
100
200
300
400
500
Nascimento 2 6 24 33
Idade (meses)
Peso vivo (kg)
Cobrição
Parto
(416)
(540
(390)
(440)
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
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Quando cobrir ou inseminar as novilhas
Como mencionado, a primeira cobrição ou inseminação deve ser feita em função das metas
estabelecidas pelo produtor, com base nas condições existentes na fazenda e no peso da novilha,
mostrado no Quadro 3. Em raças grandes, como a Holandesa, admite-se que a melhor idade para
a primeira concepção esteja ao redor dos 15 meses, com o primeiro parto ocorrendo aos 24
meses. Tentativas de reduzir a idade à primeira concepção destes animais exigiriam ganhos de
peso acima de 900 g/dia na fase pré-puberdade, com conseqüências negativas para a produção
de leite. Com relação aos rebanhos mestiços Holandês-Zebu, mantidos em regime de pasto, é
possível que as novilhas concebam aos 24 meses de idade, com o primeiro parto ocorrendo aos
33 meses, desde que sejam realizadas suplementações estratégicas na época de menor
crescimento do pasto.
Manejo da novilha apta à reprodução
As novilhas consideradas aptas à reprodução devem ser colocadas junto às vacas em
lactação, para facilitar a detecção de cio. A alimentação neste período é muito importante, pois se
as novilhas perderem peso (baixarem a condição corporal), elas podem parar de apresentar cio.
Nesta fase, os animais devem estar ganhando peso entre 400 a 600 g/dia. Atenção especial
deve ser dada para evitar os efeitos da dominância das vacas sobre as novilhas, o que poderá
prejudicar o consumo de alimentos pelas últimas. Deve-se propiciar área de cocho suficiente para
que todas possam comer com tranqüilidade.
Manejo da novilha gestante
As novilhas diagnosticadas gestantes devem ser manejadas junto às vacas secas ou com
as outras novilhas, recebendo a mesma alimentação. Durante os três últimos meses de gestação,
quando ocorre o maior crescimento do feto, as novilhas gestantes podem necessitar de um
suprimento extra de nutrientes para manter a condição corporal adequada e garantir o
crescimento do feto e o seu próprio.
Admitindo que as novilhas de raças grandes sejam cobertas com 340 kg, e que o peso ao
parto deva ser de 500 a 550 kg, conclui-se que elas terão de ganhar entre 700 e 800 g de peso por
dia (Figura 1). Para as novilhas mestiças, o peso vivo ao primeiro parto deverá ser de 450 a 500
kg. Para tanto, elas deverão ganhar 450 a 600 g por dia, durante a gestação (Figura 2). Portanto,
pode-se adotar as mesmas estratégias de alimentação mencionadas anteriormente. Vale ressaltar
que nesta fase são toleráveis planos de alimentação que permitam ganhos de peso superiores a 1
kg por dia, necessários para a recuperação de animais que, por algum motivo, encontram-se com
peso abaixo do ideal. A quantidade de concentrado oferecida dependerá, basicamente, da
qualidade do volumoso disponível. Animais recebendo volumoso de excelente qualidade (acima de
60% de NDT, na MS) podem receber de 0,9 a 1,8 kg/an/dia de concentrado. Se o volumoso for de
baixa qualidade (inferior a 60% de NDT, na MS), a quantidade de concentrado oferecida deverá
ser maior, de 1,8 a 2,7 kg/animal/dia (HEINRICHS, 1996).
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
11
Manejo da novilha antes do parto
A novilha deve ser levada para a rotina de manejo, alimentação e instalação das vacas em
lactação, três a quatro semanas antes do parto previsto. Isto permitirá que ela se ambiente com o
tipo e quantidade da nova dieta, antes do estresse do parto. É importante treinar a novilha para
sua primeira lactação, com atenção e paciência. Uma vez em lactação, deve-se massagear o
úbere para facilitar a "descida" do leite e, no caso de ordenha mecânica, remover as teteiras assim
que o leite parar de fluir.
As novilhas devem parir em boas condições corporais. Segundo HOFFMAN (1997), o escore
de 3,5 a 4,0 seria o ideal. Aquelas parindo abaixo do peso ideal apresentam, normalmente, dificuldades
ao parto, nascimento de bezerros leves e/ou com defeitos físicos, menor quantidade e pior
qualidade do colostro, período de serviço mais longo e menor produção de leite na lactação.
Aquelas que parem obesas, além do aspecto econômico, apresentam maiores dificuldades no
momento do parto. É importante evitar, nesta fase, altos consumos de silagem de milho. Se as
vacas em lactação estiverem recebendo nitrogênio não protéico em sua dieta, as novilhas também
deverão passar a recebê-lo neste período, permitindo que se adaptem a esta fonte de nitrogênio.
Após o parto, as novilhas vão exigir nutrientes para a produção de leite, para mantença e
crescimento, e para voltarem à atividade reprodutiva. Vacas de primeira lactação mal alimentadas,
principalmente nos dois primeiros meses pós-parto, têm sua produção de leite reduzida, o que
pode acarretar em erro ao se fazer descartes, além de apresentarem período de serviço maior.
Importante lembrar que as vacas mais velhas e as novilhas mais pesadas podem competir com as
mais jovens e mais leves no consumo de alimentos. Portanto, há de se propiciar área suficiente de
cocho ou manter o alimento à disposição dos animais durante as 24 horas, para minimizar os
efeitos desta competição.
Criar ou comprar as novilhas?
Esta é uma pergunta que os produtores normalmente fazem. Vale a pena ter todo o
trabalho de criar e recriar as bezerras, ou seria melhor comprá-las já enxertadas?
As principais vantagens do produtor criar suas bezerras seriam: (a) para aqueles que
adotam inseminação artificial, há oportunidade de, pela escolha criteriosa do sêmen, obter
animais melhores do que aqueles que poderiam ser comprados na região; (b) diminuir as
chances de trazer doenças para o rebanho; (c) maximizar a utilização de possíveis sobras de
áreas, alimentos, instalações e mão-de-obra e (d) oportunidade de vender novilhas
excedentes.
A principal vantagem em comprar as novilhas seria o produtor se especializar na produção
de leite, não tendo sua atenção e recursos desviados para outras categorias animais. Seria a
melhor opção, também, para aqueles que tencionem melhorar seu rebanho mais rapidamente.
Esta decisão dependerá do preço e da facilidade em se encontrar boas novilhas na região.
Portanto, há de se considerar todos esses aspectos mencionados. No final, a decisão
entre criar ou comprar os animais é principalmente de ordem econômica e vai depender da
habilidade do produtor em criar bem as novilhas e do desempenho delas no rebanho.
Recomenda-se a leitura do artigo de MOURITS et al. (1997), que discutem a aplicação de
modelos para auxiliar na decisão sobre o manejo a adotar na criação de fêmeas de reposição
em rebanhos leiteiros.
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
12
Como avaliar se a recria está sendo bem conduzida
Costuma-se utilizar a idade à primeira concepção e, conseqüentemente, à primeira
parição, como índices de eficiência em sistemas de produção de leite. Quanto mais cedo a
idade à primeira concepção, mais nítida a impressão de que a propriedade adota boas práticas
de alimentação e manejo das novilhas. O atendimento a metas preestabelecidas é o melhor
indicador. O Quadro 4 apresenta sugestões do desenvolvimento ponderal para fêmeas de
reposição em rebanhos leiteiros.
Quadro
4: Sugestões de desenvolvimento ponderal para fêmeas de reposição de raças
grandes (Holandesa, Parda suíça), pequenas (Jersey) e de animais mestiços
Holandês-Zebu.
Idade (meses) Peso (kg)
Raças grandes
Nascimento 40
6 meses 146
15 meses -
cobrição
340
24 meses -
parição
550
Raças pequenas
Nascimento 25
6 meses 104
13 meses -
cobrição
250
22 meses -
parição
360
Mestiças Holandês-Zebu
Nascimento 30
6 meses 120
24 meses -
cobrição
330
33 meses -
parição
420
Na ausência de informações sobre o peso dos animais (muitos produtores não possuem
balança ou “fita”), pode-se lançar mão das condições corporais dos animais como indicativo da
qualidade da alimentação e do manejo adotados (Quadro 5).
Quadro 5
: Sugestão de condições corporais durante diferentes fases de crescimento das
fêmeas de reposição em rebanho leiteiros.
Período Escore corporal
1
Nascimento aos quatro meses 2,75 a 3,00
Quatro meses ao início do pré-parto 3,00 a 3,75
Pré-parto 4,00
1
Escore corporal variando de 1 a 5, sendo 1 = muito magra e 5 = obesa
Outro indicador importante é a taxa de reposição do rebanho. Considera-se normal uma
taxa de reposição de 25% ao ano, mas ela pode e deve ser maior se houver interesse em se
adotar uma pressão de seleção mais rigorosa, no sentido de aumentar a produção de leite do
rebanho. Para isto ser viável, é fundamental que o rebanho apresente alta taxa de natalidade e
Estratégias para obtenção de fêmeas de reposição em rebanhos leiteiros
13
baixa taxa de mortalidade, resultantes da adoção de bons sistemas de cria e recria dos
animais.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Na fase de recria, há uma relação estreita entre nível de alimentação prepubertal, idade
ao início da puberdade, crescimento da glândula mamária e futura produção de leite. A adoção
de um sistema de alimentação que resulte em taxas elevadas de ganho de peso reduzirá a
idade ao início da puberdade, mas poderá prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária e
a produção de leite nas primeiras lactações. Este efeito parece ser independente da
composição da dieta, e está presente em todas as raças. Entretanto, ainda não se conhece
claramente os processos fisiológicos relacionados com a nutrição e desenvolvimento da
glândula mamária. Estudos devem ser conduzidos neste sentido para, no futuro, permitir que se
adotem taxas de ganhos mais elevadas, antecipando a idade a primeira lactação, sem
prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária e a produção de leite.
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